Um Beijo Roubado

Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights) – Wong Kar-Way (Diretor e Co-roteirista)
China, França, EUA - 2007 / 90 minutos

Quando se pensa em Wong Kar-Way, duas coisas vêm à mente: Romance e Beleza. Seus filmes falam de amor, e o fazem de uma forma muito bela, esteticamente apurada. Sua alma oriental está sempre impressa em seus filmes. Os planos têm duração diferenciada, as cenas têm menos planos, o ritmo é outro. Para ter conhecimento disso, basta assistir “2046”, “Amor à flor da pele” ou “Felizes juntos”, seus últimos grandes sucessos.

Um Beijo Roubado é também um filme de amor. Mas não apenas isso, porque através da ótica da Elizabeth, temos contato com diversas realidades diferentes, diversos personagens diferentes, histórias, angústias, diferentes entre si.

O filme conta a história de dois jovens: uma garota (Norah Jones, no papel de Elizabeth) que levou um fora do namorado e, depois de relutantemente desistir dele, sai pelo mundo para se descobrir; e o dono de um bar (Jude Law, no papel de Jeremy) que desistiu de correr o mundo por achar que havia se descoberto. Os dois se tornam amigos, e Elizabeth Manda cartas esporádicas a ele para contar suas aventuras pelo país.

Durante seu passeio, Elizabeth trabalha de atendente em bares – como seu amigo Jeremy - e assim vai conhecendo diversos tipos de pessoas diferentes. É através destes relacionamentos que o filme transcorre. A cada novo lugar, novos encontros, novas oportunidades para aprender com os outros sobre a vida e sobre relacionamentos.

Kar-Way se utiliza destes diversos ambientes para trabalhar a fotografia, montagem e a direção de arte do filme. Cada lugar tem sua característica estética específica, suas cores, seu modo de ser apresentado, tornado-os únicos, apesar das similaridades. Cada local possui movimentações de câmera próprias, tonalidades específicas. Am alguns, ritmos mais rápidos, mais movimento. Em outros, planos mais longos, câmeras fixas. O bar de Jeremy é especialmente bem retratado, com características aparentemente banais, mas que o tornam vivo, singular e real. Kar-Way se utiliza até mesmo de uma câmera de segurança para tornar a experiência mais própria do local.

A música também condiz com as situações criadas. Um misto de country e jazz permeia as cenas, ajudando nos momentos de melancolia, tristeza ou romance. Mas o diretor sabe usar também os ruídos do ambiente para dar clima e reforçar sensações, deixando muitos planos sem qualquer trilha, sem que sintamos falta dela.

O que sentimos falta é de uma melhor atuação da protagonista. Mesmo sabendo que Norah Jones não é atriz (o filme é sua estréia no cinema), nos faz falta em alguns momentos uma interpretação mais profunda, menos repetitiva. Essa falha também recai sobre o diretor, tanto pela escolha dela para o papel, quanto pelo modo como a dirigiu. Em compensação, Jude Law está muito bom, fazendo jus aos seus filmes anteriores.

Outro problema do filme são os diálogos e as situações propostas. É muito difícil não cair em clichês quando se fala de sentimentos humanos, de desilusões, de frustrações, de esperança, mas mesmo os clichês podem ter algum charme ou criatividade. As situações são forçadas, repentinas, rasas, sem um desenvolvimento apropriado. Mesmo as boas idéias são mal trabalhadas. Os diálogos em especial estão bastante inferiores ao que se esperaria de um filme de Kar-Way; infantis, simplórios, óbvios e piegas. Talvez por ser seu primeiro filme falado em inglês, ou talvez por ele ter pensado no público de Hollywood como alvo deste filme. Justiça seja feita, ainda assim Um Beijo Roubado é bastante superior à maioria dos dramas românticos produzidos nos Estados Unidos. Mas não é bom o bastante.

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