Superman Returns

Antes de tudo, vale ressaltar: é um filme ruim.

O mito do super-homem, presente nas mais diversas metáforas, nunca abandonou o cinema: desde Metrópolis (literalmente com protagonista sobre-humano), Luke Skywalker, passando pelo próprio Homem de Aço, Hércules, outros heróis, até por versões mais “diferentes” (Neo de Matrix ou, sendo mais ousado, Jesus Cristo de Mel Gibson). É o nosso mito preferido.

Assim sendo, Superman Returns nunca pode ser considerado como apenas mais um filme. Ou só um filme. Além desse mito em nosso inconsciente, temos ainda as lembranças, carregadas de significados emocionais, relativas às versões anteriores. Ou seja, nesse novo filme, não é necessário desenvolver uma personagem que cative o público, pois a personagem já está construída e desenvolvida.

E o filme se apega nisso e nada mais.


AVISO: Se quer ter sua própria opinião antes de saber a minha, pare de ler e vá assistir o filme.

Ancorado nessa nostalgia romântica que acompanha a personagem, temos na tela o que muitos esperavam na vida real: o retorno do herói.

A abertura é genial. A animação é fantástica, representando a viagem de Krypton para a Terra. Idem para a frase dita por Marlon Brando (imagens de arquivo), que faz o papel de pai do herói: “O filho se torna pai, o pai se torna filho”. Uma dica importante para prevermos uma parte do filme (nesse e no próximo).

Uma nave cai nos arredores da fazenda Kent. Pensamos que a história de Superman está sendo recontada do início, mas não. Martha está velha e só, e o herói está retornando de sua viagem (Brandon Routh). Até aí, tudo ótimo.

O Super deixou a Terra, há cinco anos, para ir atrás do seu planeta natal: Krypton. Primeira grande falha do filme. Se o pai dele (Jor-El) já está morto há “milhares de anos” (como é repetido algumas vezes no filme), como ele conseguiu ir a Krypton e voltar em 5 anos?

Então, Clark Kent começa a re-adaptação ao mundo “Metropolitano”. Festejado por Olsen, semi-invisível para Lois – o que é um absurdo, pois eles eram bons amigos. Aliás, a atriz escolhida para o papel – Kate Bosworth – não atua bem, e não tem o tipo físico da personagem.

Prosseguindo. Clark retorna a seu antigo emprego, e Superman volta a ativa. Lois relembra a paixão pelo herói, mas agora ela está casada e com um filho. Mesmo assim, Superman tenta seduzi-la indefinidamente – algo que não condiz com a personalidade do herói – fazendo com que o público torça pelo fim de um casamento estável apenas porque Superman é o mocinho. Complicado...

Os atos de heroísmo dele são... ridículos. Com tanta gente passando fome no mundo, catástrofes naturais acontecendo, guerras, ele se atém a salvar pessoas que caem de prédios, parar carros desgovernados e outras coisas definitivamente menos importantes.

De vilão, temos o preferido: Lex Luthor. Infelizmente, o diretor escolheu por ter um antagonista totalmente estereotipado (não apenas o antagonista, mas todos os vilões) e, devo dizer, muito menos capaz intelectualmente do que Luthor seria. O que não diminui a genialidade de interpretação de Kevin Spacey.

Fora da prisão (porque Superman não compareceu ao tribunal para testemunhar contra ele – outro ponto frágil do roteiro), casa por dinheiro (ele já era milionário), vai até a Fortaleza da Solidão, aprende um pouco sobre tecnologia superavançada kryptoniana, e o que ele decide? Criar uma super-usina de energia? Criar um novo método de fusão a frio? Possibilitar viagens interplanetárias? Derrubar os governos? Criar um supercomputador? Não, ele decide por criar uma grande ilha (chamar aquilo de continente está difícil) de cristal, com krytonita. Pra que??? Só Deus sabe, porque o uso do solo é inútil, tanto pela formação geométrica, quanto pela formação geológica. Claro que o Super vai para a Ilha, é afetado pelo cristal, e apanha muito, com muita incongruência no meio do caminho.

O namorado de Lois ajuda a salvar Kal-el (era uma luta muito desleal pelo coração dela, então os autores resolveram tornar esse rapaz heróico também). E no fim, tudo acaba bem. Claro.

Mais tarde, para livrar o mundo do grande mal que era aquela ilha de cristal, Superman a joga para o espaço, fazendo um esforço sobre-super-humano. Cai em coma. Mais uma incongruência. Bastaria a queda dele para fazer seu corpo se recuperar com a energia do Sol. Apenas uma tentativa de criar mais um ponto de tensão no filme.

Ah sim, o filho de Lois é filho do herói. Isso é interessante. Também há outras coisas legais, como algumas frases (Voar ainda é o meio mais seguro de transporte, parafraseando o filme 1) ou situações (É um pássaro? É um avião?).

Mas há coisas muito ruins no filme. O cristal que se multiplica na água é uma delas. Luthor ficar tão empolgado por um cristal que se multiplica na água é outra. As personagens estereotipadas é mais uma. Ninguém descobre que Clark é Superman. Não vemos cenas de ação realmente empolgantes no filme. O roteiro é incongruente e não se sustenta. Perry White não tem nada a ver com Perry White. Ninguém descobre que Clark é Superman.

É apenas um filme baseado em nostalgia. Assista, afinal somos todos muito curiosos, e estamos falando do grande mito humano, que perde em importância apenas para o mito da criação.

Mas não espere muito.

Comentários

Anônimo disse…
Na moral velho... filho de superman foi foda! Se eles se basearam no outro filme, não vi razão pra esse moleque aparecer... na boa.
Anônimo disse…
De argumento, argumento mesmo, sua crítica tem muito pouco.

Puro chilique de quem quer teimar que Batman é melhor que Super-homem.

:PPPP

Uirá
Anônimo disse…
eu discordo de vc, ema. eu achei o filme bom. só não gostei dele.

até onde me consta, superman nao tem filhos. isso é uma mudança radical na persona dele, no tipo de pessoa que ele pode ser para si mesmo e para o mundo.

ter um filho muda tudo, e tudo que um fã não quer é ver seu personagem modificado no cinema.

o filme é bom. eu é que não gostei.
Anônimo disse…
Bem, poderia falar do filme, mas vou falar da sua crítica.

Não há um eixo central nela. Você pega um defeito aqui, outro ali, uma coisa quase boa acolá e pronto. Não tenta identificar o que o filme pretende e se ele consegue isso ou não.

Antes de escreveer, para e pensa nessas coisas. Se não vira só uma descrição do filme. E sem os efeitos especiais.

E outra coisa, não é o "mito do super-humano" que nos atraí. Ser super é só um aspecto do mito de verdade, que é o mito dum Salvador.
Anônimo disse…
cabra,

eu gostei de várias coisas que você critica. pq, no fim das contas, eu senti que tentaram fazer um filme de herói à moda antiga. o vilão não quer fazer fusão a frio. não quer mudar o código genético da população. ele quer criar mais um continente! bwahahahahah é um vilão do jeito que a gente via quando era pequeno.

e vários detalhes vão nessa linha. a trilha sonora, por exemplo. dá aquelas falhas de filme velho, fita velha de sessão da tarde. eu acho que foi intencional!

ou seja, você está certo. é sobre nostalgia. mas isso é bom. aliás, eu achei a melhor coisa no filme.
Anônimo disse…
Oi, por um acaso, acabei achando vc por aqui. Como adoro cinema não resisti a ler suas críticas. E logo de cara, Superman. Olha, não sou nem suspeita pra falar pq simplesmente ODEIO o Superman dos quadrinhos. Fui ver o filme, sei lá, uns três meses depois de ter estreado, não esperava nada, quando fui surpreendida, mais uma vez, pelo Brian Singer...
Claro que o filme tem milhares de coisas ruins, a começar pelo ator que ao invés de tenter ser o Kent, era o Reeve, a Lois era péssima, entre outras coisas.
No entanto, Singer me ganhou no momento em que "destruiu" o mito do salvador para torná-lo um homem, com qualidades e defeitos. Finalmente Kal-el se tornou humano, o que ele sempre quis ser. Ele sofreu, chorou, sentiu CIÚMES, se sentiu inseguro, se sentiu desnecessário, até sentiu dor e sangrou. Quem jamais acreditou que a DC deixaria que fizessem isso com o homem de aço?!?!?!? Vc mesmo fala, ele insistentemente dá em cima de uma mulher casada. É isso aí, crise nas terras infinitas, meu bem...
Bom, deixa eu ir.
Beijocas.
Iris.
Anônimo disse…
"Oi, por um acaso, acabei achando vc por aqui. Como adoro cinema não resisti a ler suas críticas."
idem.
Não concordei com o que vc escreveu, achei o filme genial os atores geniais, Brandon Routh faz o Clark e o Superman que na minha opnião supera Cristopher Reeve (apesar da aparição modesta de Clark).Tá bom que a Louis não é de fato tão elétrica quanto sua sucessora mais convence.De Kevin Spacey vou poupar mes dedos.
Quanto ao herói seduzir Louis lane, pra mim, só reforça o lado humano dele.E as frases de Marlon Brandon,Jor-El, refeita por computador simplesmente fantasticas.
Confesso que a idéia de criar uma ilha não foi a melhor, mas para mim ficou claro que Luthor queria criar um mundo onde Superman não pudesse viver.
Estou com um pouco de pressa hoje, mais venho ver suas próximas resenhas e quem sabe comenta-las
abraço!!

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