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Two Ghosts in one shell – um texto comparativo para além do whitewashing

Já sabemos que a indústria audiovisual estadunidense é famosa por whitewashing – em adaptações, versões ou remakes, coloca-se personagens de outras etnias para serem atuados por brancos. Se fosse uma coisa ocasional não seria um problema, mas é uma coisa sistemática num mundo extremamente racista e xenófobo. Muitos exemplos existem: John Wayne foi Genghis Khan, David Carradine era um oriental na série Kung Fu, Boris Karloff e Christopher Lee ambos representaram Fu Manchu, Laurence Olivier foi Othello, Alec Guiness apareceu como Príncipe Faisal, Max Minghella fez o papel de Divya Narendra, Noah Ringer foi Aang, Tilda Swinton faz papel de alguém do Himalaia, Goku é representado por Justin Chatwin, Tom Cruise atuou num papel que era originalmente de um japonês, Anthony Hopkins assume um papel afro-americano, Anthony Quinn representa um grego, Jake Gyllenhaal faz papel de persa, Josh Hartnett faz papel de Inuit, Jeremy Irons, Meryl Streep e William Hurt representam latino-americanos e b
Há tanto tempo que te amo - Philippe Claudel Há tanto tempo que te amo - Drama - França/Alemanha - 116 min - 2008 Roteiro e Direção: Philippe Claudel Com Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius, Laurent Grévill y Frédéric Pierrot. Indicações: BAFTA - Melhor Filme de Idioma Não-Inglês / BERLIM - Melhor Diretor / British Independent Film Award - Melhor Filme Independente Extrangeiro / CÉSAR - Melhor Filme Francês, Melhor Música Escrita para um Filme, Roteiro Original, Melhor Atriz / Globo de Ouro - Melhor Filme de Língua Extrangeira, Melhor Atriz. Prêmios: BAFTA - Melhor Filme / CÉSAR - Melhor Filme de Estréia, Melhor Atriz Coadjuvante Em sua estréia na direção, Philippe Claudel nos apresenta uma obra que possui uma característica especial dos bons filmes – trazer consigo discussões e questionamentos que são muito maiores do que sua narrativa. Ao contar a história do reencontro de duas irmãs, envolvido em algum mistério do passado, Claudel discute não apenas os velhos
Cleópatra, de Júlio Bressane CLEÓPATRA Julio Bressane. Brasil. 120 minutos. Alessandra Negrini, Miguel Falabella, Bruno Garcia. Júlio Bressane formou com Rogério Sganzerla o movimento do Cinema Marginal no Brasil. Filmes de baixíssimo orçamento, por muitas vezes experimentais, crus. Linearidade e narrativa simples não fazem parte deste mundo, que é composto de muita pesquisa estética e de linguagem cinematográfica. É a partir deste ponto de vista que devemos pensar Cleópatra de Bressane. Este filme não é apenas a história da 7ª Cleópatra que governou o Egito e se matou com uma picada de cobra. Contar a história da rainha parece ser uma preocupação menor de Bressane diante do que ele nos apresenta. Antes de discutirmos o filme, é interessante ressaltar que o diretor levou cerca de 15 anos estudando o mito para fazer o roteiro. Isso quer dizer que o filme não nasceu da noite para o dia, mas foi fruto de muita pesquisa. Além disso, o roteiro é uma co-autoria entre Bressane e sua mulher, R
Um Beijo Roubado Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights) – Wong Kar-Way (Diretor e Co-roteirista) China, França, EUA - 2007 / 90 minutos Quando se pensa em Wong Kar-Way, duas coisas vêm à mente: Romance e Beleza. Seus filmes falam de amor, e o fazem de uma forma muito bela, esteticamente apurada. Sua alma oriental está sempre impressa em seus filmes. Os planos têm duração diferenciada, as cenas têm menos planos, o ritmo é outro. Para ter conhecimento disso, basta assistir “2046”, “Amor à flor da pele” ou “Felizes juntos”, seus últimos grandes sucessos. Um Beijo Roubado é também um filme de amor. Mas não apenas isso, porque através da ótica da Elizabeth, temos contato com diversas realidades diferentes, diversos personagens diferentes, histórias, angústias, diferentes entre si. O filme conta a história de dois jovens: uma garota (Norah Jones, no papel de Elizabeth) que levou um fora do namorado e, depois de relutantemente desistir dele, sai pelo mundo para se descobrir; e o dono de um ba
L'avventura L’avventura (Itália/França, 1960, 145 minutos, preto e branco, Michelangelo Antonioni) é um filme que conta a história do desaparecimento de Anna e do envolvimento do seu namorado Sandro com sua melhor amiga, Cláudia. Um drama leve, envolto em mistério, que nos fala um pouco das relações humanas, principalmente das relações entre homem e mulher. A primeira relação a que temos contato é a de Anna e seu pai. Apesar da filha ser uma mulher feita, ele não aceita bem ser deixado só num fim de semana por um namoradinho, e deixa claro que o rapaz (Sandro) nunca vai casar com ela. Ela também é dependente do apreço do pai, mas já o conhece, e não se deixa levar pelo drama. E ele ama muito a filha, o que pode ser notado pelo modo como se comporta com relação ao desaparecimento dela. Anna é uma mulher independente, filha de um diplomata rico, aparentemente não trabalha, e que namora um arquiteto que passa muito tempo navegando. É uma mulher que está insatisfeita com esta distância

Análise: "Teorema", de Pasolini

te.o.re.ma sm (gr theórema) Qualquer proposição que, para ser admitida ou se tornar evidente, precisa ser demonstrada. - Dicionário Michaelis O filme de Píer Paolo Pasolini, feito na Itália em 1968, com duração de 105 minutos, gira em torno de 6 personagens: Um rico industrial, sua mulher, sua filha, seu filho, a empregada da casa e um visitante misterioso. A história fala da mudança na vida deste núcleo familiar a partir da chegada de um homem que seduz a todos. O filme não é linear. A primeira cena, de abertura, mostra o resultado de uma das últimas cenas. Vemos um repórter entrevistando proletários que ganharam do patrão (Paolo) a fábrica em que trabalhavam, ação esta que ocorre apenas no final do filme. Esta, assim como outras cenas, são deslocadas temporalmente, porque o importante neste filme não é a linearidade, mas a mensagem de Pasolini. O visitante é anunciado por um carteiro, de nome Angelino, via telegrama. Da mesma forma, o visitante vai embora, a partir de uma carta. O ca

Superman Returns

Antes de tudo, vale ressaltar: é um filme ruim. O mito do super-homem, presente nas mais diversas metáforas, nunca abandonou o cinema: desde Metrópolis (literalmente com protagonista sobre-humano), Luke Skywalker, passando pelo próprio Homem de Aço, Hércules, outros heróis, até por versões mais “diferentes” (Neo de Matrix ou, sendo mais ousado, Jesus Cristo de Mel Gibson). É o nosso mito preferido. Assim sendo, Superman Returns nunca pode ser considerado como apenas mais um filme. Ou só um filme. Além desse mito em nosso inconsciente, temos ainda as lembranças, carregadas de significados emocionais, relativas às versões anteriores. Ou seja, nesse novo filme, não é necessário desenvolver uma personagem que cative o público, pois a personagem já está construída e desenvolvida. E o filme se apega nisso e nada mais. AVISO: Se quer ter sua própria opinião antes de saber a minha, pare de ler e vá assistir o filme. Ancorado nessa nostalgia romântica que acompanha a personagem, temos na tela o