Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Um dos melhores filmes de romance que eu já assisti na minha vida. Nota 9,5.

A história é magistral. Clementine Kruczynski (Kate Winslet, ótima) termina o namoro com Joel Barish (Jim Carrey, idem) e retira de sua mente todas as memórias que envolvem o ex-namorado (numa clínica especialidzada!). Irritado, enciumado e sofrendo muito, Joel decide fazer o mesmo. Porém, durante o processo de obliteração das memórias de sua ex, ele percebe que não quer se esquecer dela completamente. Juntos (Joel e a representação de Clementine em sua mente) eles tentam inserir lembranças dela em algum lugar recôndito da mente do moço.

Mas isso é uma mera sinopse.

(Aviso: se você não assistiu o filme, pare de ler e vá alugá-lo.)

Num ato de impulsividade próprio de Clementine (Oh querida! Oh querida! Oh querida Clementina!), ela apaga todas as memórias que possue de Joel numa clínica especializada. Joel tenta se reconciliar com ela, indo encontrá-la no trabalho, mas Clementine simplesmente não o reconhece e - para assombro de Joel - já está com outro namorado. Joel fica desesperado e vai desabafar com um casal amigo seu, Carrie (Jane Adams) e Rob (David Cross), e acaba descobrindo o que aconteceu de forma muito surreal: Rob e Carrie receberam um cartão da clínica solicitando que eles nunca mais tocassem no nome de Joel ou nada relativo a esse assunto com Clementine. Obviamente, Joel decide fazer o mesmo.

O processo de "desmemorização" é muito interessante. O "paciente" deve levar para a clínica tudo (cartões, lençóis, presentes, fotos) que tenha ligação com a pessoa a ser esquecida (o alvo). Deve falar tudo o que sente pelo alvo do esquecimento para o médico (informação esta que é gravada em fita cassete). Mais tarde, o paciente é colocado sob observação neural, e tudo o que ele trouxe para a clínica é novamente mostrado a ele para, a partir do que ele sinta (e das ondas cerebrais emitidas), a equipe médica possa fazer um mapeamento exato dos locais onde as memórias do "alvo" estão presentes. O paciente vai embora e leva um comprimido consigo.

Em casa, antes de se deitar, ele toma o comprimido. A droga o faz dormir, e entram dois "técnicos" em sua casa, para retirar dele as memórias: colocam nele um capacete que emite energia e o acoplam a um computador que acompanha o processo. Pronto, as memórias são apagadas.

Mas dessa vez as coisas são um pouco mais complicadas.

Primeiro porque os técnicos são dois loucos. Stan (Mark Ruffalo) é o "engenheiro chefe" da equipe. Ele tem uma cara de pirado, obviamente consome várias drogas, e chama a namorada Mary (Kirsten Dunst) para participar das sessões. O assistente é Patrick (Elijah Wood), não menos doido, que roubou uma calcinha de uma das últimas pacientes, ninguém menos que Clementine (!), e agora está iniciando um namoro com ela a partir dos objetos que ela entregou na clínica.

Os dois fazem muita bagunça e muito barulho, de tal forma que Joel nota, mesmo inconsciente, que o processo de eliminação de memórias já começou. Enquanto as memórias vão sendo apagadas você descobre muito da vida do antigo casal: como os dois realmente se conheceram, como o namoro evoluiu, como decaiu. Além disso, Joel começa a conversar com Clementine. Não a verdadeira, mas sua memória dela. Joel não quer esquecê-la, e os dois (?) decidem que o melhor a fazer é que ele a esconda em alguma memória antiga, que ela não participasse originalmente. Cenas fantásticas, muito plásticas, diálogos maravilhosos, singelos, tocantes.

No mundo real, Patrick vai encontrar Clementine, Mary chega e Stan deixa o computador em piloto automático, enquanto os dois dançam, cantam, transam, dormem, etc. Até que, pela primeira vez na história da clínica, o processo para, e Joel consegue abrir o olho. Sem conseguir reiniciar a desmemorização, Stan chama o médico responsável pela clínica, Dr. Howard Mierzwiak (Tom Wilkinson).

Descobrimos que Mary não só é apaixonada pelo Dr., mas que eles já tiveram um caso e decidiram que o melhor a fazer sobre isso era que ela tivesse suas memórias apagadas.

Depois de muito trabalho e muito pega-pega entre o médico e Joel, o processo é terminado. A Clementine da mente de Joel, percebendo que os dois vão perder a corrida, pede que ele vá encontrá-la na praia onde se conheceram no dia seguinte.

Ele acorda sem lembrança alguma da moça. E então o filme volta para o começo.

A primeira cena do filme mostra Joel indo para uma praia vazia, no inverno, sem motivo aparente. Lá ele conhece Clementine, meio desesperada, meio chata, puxando conversa com ele sem parar. Na primeira vez que vemos a cena, pensamos que foi assim que eles se conheceram. Durante as lembranças de Joel, ele nos mostra que ele se conheceram na mesma praia, mas de forma diferente.

Voltando para o começo, o ciclo se fecha. Eles saem juntos, e cada um recebe uma fita cassete em casa - foi Mary que enviou a todos os clientes que tiveram as lembranças adulteradas - e descobrem que já tinha sido um casal. Ficam muito tristes com o que ouvem (Joel ouve o que Clementine pensa dele e vice-versa). Clementine tenta ir embora, mas Joel a segura. E aí que - na minha opinião, claro - está a melhor parte do filme. Clementine diz que Joel estava certo, que o que ele diz na fita é verdade, que ela é mesmo chata, carente, volúvel, e que em breve eles iria terminar de novo. Joel olha para ela, dá um sorriso e diz "tudo bem". Lindo.

Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004) foi dirigido por Michel Gondry, que costuma trabalhar com vídeos musicais, e escrito por ele e Charlie Kaufman, este último também roteirista de 'Confissões de uma mente perigosa', 'Adatação' e 'Quero ser John Malkovich'.



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Comentários

Marina Garcia disse…
Esse filme é realmente fantástico. Foi muito bom ler seu texto e ir lembrando de cada cena...
Foi, também, um dos filmes mais lindos que já vi.


ps: obrigada pela dica sobre meus textos, estou tentando colocar em prática!

Beijos

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